sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Celly Campello e Tony Campello


Falar de Rock N' Roll no Brasil e não falar deles é um sacrilégio sem perdão... Então aí vai. Eu tive o prazer de conhecer o Tony, abraçar, cantar com ele, pedir autógrafo... Um tiete assumido. Lamento não ter conhecido a Celly mas serei fã deles pra sempre.
Antes de Tony e Celly Campello, a produção de rock nacional era meramente uma tiração de sarro, movido por interesses exclusivamente comerciais. Um filão para artistas de várias vertentes quase sempre acima dos trinta anos. Não foi até os irmãos Tony e Celly Campello entrarem na cena musical que o rock realmente passou a ser uma expressão artistica jovem neste país. Com o impacto de Celly Campello, sua imagem de simpatia e carisma, além de sua voz perfeitamente clara e límpida, deu-se o inicio ao primeiro estilo de rock nacional que só mais tarde iria ganhar o nome de Jovem Guarda.
Tony Campello nasceu Sérgio Birilli Campello no dia 24 de fevereiro de 1936 na cidade de São Paulo, segundo entre três crianças. Nascia seis anos depois a irmã caçula Célia Birilli Campello, em 18 de junho de 1942. A família mudaria pouco depois para Taubaté, interior do Estado, o verdadeirao berço de suas carreiras. Os irmãos teriam uma boa instrução musical, ambos tendo aulas de piano e violão, Célia também aprendendo balé.
Já com cinco anos, Célia se mostrava uma cantora extremamente afinada de voz clara e meiga. Estréia, por assim dizer, em festas do Rotary Club, que seus pais freqüêntavam. Aos seis estava cantando nas rádios. Sua estréia foi no programa Silva Neto da Rádio Difusora, mas também participou de programas da Rádio Cacique de Taubaté. Tornou-se rapidamente um nome conhecido na cidade. A pequena Célia se espelhava em cantoras como Ângela Maria e Doris Monteiro, e era delas que a menina tirava o seu repertório.
Sérgio, por sua vez, depois de esgotar as possibilidades musicais no circuito de Taubaté, fez o caminho natural de ir a São Paulo. Conseguiu um lugar no grupo Ritmos OK e mais tarde, no Mário Genari e seu Conjunto. Ainda bem comum na época, bandas nacionais faziam gravações em inglês, como se fossem americanos. Esta era a época em que os laços entre os dois países iniciavam seu namoro comercial. Walt Disney desenvolve o personagem Zé Carioca e Orson Wells vem filmar no Brasil. Desta maneira, não foi nada incomum o fato de Mário Genari escrever algumas canções em inglês, ‘Forgive Me’ e ‘Handsome Boy’ que seriam gravadas pela crooner do conjunto, Celeste Novaes.
No entanto, seu inglês mostrou na prática ser pouco convincente para a tarefa. Mário então entregou as canções para Sérgio cantar, pois sua base em inglês era o melhor entre os membros do conjunto. Sérgio gravou ‘Forgive Me’ mas como não pegava bem um homem cantar uma letra falando de um ‘Menino Bonito’, trouxe para o estúdio sua irmã Célia, então com quinze anos. Sua interpretação foi tão perfeita que a canção acabou sendo o lado A deste acetato lançado em 1958 pela Odeon.
Numa tramóia típica da época, um esquema foi montado para vender os irmãos como uma dupla americana. Assim Sergio se tornou Tony e Célia, Celly. O nome Celly aparentemente escolhido pela própria Célia, era o nome de sua boneca predileta. Campello continuou por exigência do pai dos dois adolescentes, o Sr. Nelson Campello. O novo nome artístico teria sua estreia no programa Campeões do Disco, da antiga TV Tupi, ainda em 1958. O estilo da Celly de cantar é facilmente identificado pelas divas brancas do rock caipira americano, com altas dosagens de country music. São cantoras como Brenda Lee e Connie Francis que mais chamam a atenção de Celly. Já Tony, dedica aos artistas americanos Johnnie Ray e Pat Boone as suas principais influências. Mas ambos são unânimes quanto à importância de Bill Halley e seus Cometas para o rock and roll.
Com a chegada de 1959, veio outra série de compactos, mas o fenômeno aconteceu somente após Celly lançar "Estúpido Cupido", versão em português escrita por Fred Jorge para o grande hit americano, "Stupid Cupid" de Neil Sedaka e Howard Greenfield. O repertório de Celly é basicamente de versões, a maioria das quais, compostas por Fred Jorge. Não demorou muito para ela lançar o seu primeiro LP.
Celly eTony
Mas foi de fato com "Estúpido Cupido" que o nome de Celly passaria a ser conhecido. E através do programa "Crush em Hi Fi" da TV Record, que a imagem da menina sorridente e simpática conquistaria os corações de pais e filhos nos grandes centros do país (ainda não havia transmissão televisiva para o Brasil inteiro). Em 1960, Celly Campello começou a ser reconhecida como a namoradinha do Brasil, título que passaria depois para Regina Duarte. E de fatos, éramos todos apaixonados por ela. Paixão que rendeu até alguns produtos no mercado, como a boneca Celly da Troll, e até um chocolate da Lacta chamado Cupido. Seria contratada juntamente com o irmão para cantar jingles comerciais vendendo produtos tão diversos como colírio Moura Brasil, biciletas da Monark e pó achocolatado da marca Toddy. Também em 1960, Celly e seu irmão Tony fariam uma pequena aparição no filme "Zé do Periquito" de Mazzaropi, onde cantam a canção "Tempo de Amar" junto com George Freedman e Hamilton de Giorgio e a Celly  e o Tony fizeram também uma aparição no filme "Jeca Tatu" onde cantam "Sem Tempo para Namorar".




Celly & Sérgio Murillo
Em 1961, com outra série de canções gravadas, foi oficialmente condecorada pela "Revista do Rock" como sendo a Rainha do Rock do Brasil, junto com Sérgio Murillo, eleito Rei. Em maio de 1962, casou com José Eduardo Gomes Chacon, então contador da Petrobrás e largou sua carreira artística para cuidar da casa e criar uma família. Já com dois filhos, gravou um disco em 1968 e chegou a participar de alguns festivais de músicas durante 1969-71. Mas foi somente em 1976, com a novela "Estúpido Cupido" da Rede Globo que faria sucesso nacional, tendo ela então gravado seu último disco e excursionado por todo o país, pois o Rock já era então uma indústria altamente lucrativa.


Em uma entrevista concedida em 1993, Celly deixa entender que foi somente após este revival que ela começou a tomar consciência da sua importância para a história musical do país. Três anos depois tomou conhecimento que estava com câncer de mama. Após passar por uma cirurgia e tratamento à base de quimioterapia, os médicos a consideraram curada. Posteriormente o câncer foi identificado em uma de suas costelas, mal que acabou atingindo a pleura. Outra cirurgia e mais quimoterapia não abalaram a moral ou esperanças da eterna "Broto Legal". No entanto, novamente internada no dia 20 de fevereiro, no Hospital Samaritano, Celly Campello acabaria por falecer no dia 4 de março de 2003. O sepultamento se deu no dia seguinte no Cemitério dos Flamboyants na cidade de Campinas onde ela residia. Ela deixa o marido, dois filhos e três netos e uma multidão de fans.
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